A Divina Comédia – Dante Alighieri

Divina Comédia IX, Gustave Doré
Divina Comédia IX, Gustave Doré

E a ambos me dirigindo, eu disse, atento:
“Francisca, a triste história que narraste
move-me ao pranto e a grande sofrimento.

Revela-me a razão porque passaste
do puro anelo e do inocente amor
à culpa amarga que tão cedo expiaste”.

“Não existe”, falou-me, “maior dor
que recordar, no mal, a hora feliz;
e bem o sabe, creio, esse doutor.

Mas já que o nosso amor desde a raiz
ansiosamente queres conhecer,
narrá-lo vou, como quem chora e diz.

Estávamos um dia por lazer
de Lancelote a bela história lendo,
sós e tranqüilos, nada por temer.

Às vezes um para o outro o olhar erguendo,
nossa vista tremia, perturbada;
e a um ponto fomos, que nos foi vencendo.

Divina Comédia - Inferno - Canto V, Gustave Doré
Divina Comédia – Inferno – Canto V, Gustave Doré

Ao ler que, perto, a boca desejada
sorria, e foi beijada pelo amante,
este, de quem não fui mais apartada,

os lábios me beijou, trêmulo, arfante.
Galeoto achamos nós no livro e autor:
e nunca mais foi a leitura adiante

Enquanto aquela sombra o triste amor

lembrava, a outra gemia em desconforto;
e quase à morte eu fui, de tanta dor.

E caí, como cai um corpo morto.*

* Fonte: Prof. Dr. Sílvio Medeiros e o link para o site http://www.recantodasletras.com.br/autores/silviomedeiros.

Bernardo  e Francesca

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