Renato Janine Ribeiro: “No Brasil temos uma imprensa que efetivamente mente”

Leiam porque a Rede Globo, SBT e outras emissoras estão se esperneando tanto para derrubar a Dilma e porque os globais foram aos protestos

Por que a dívida da Globo não é manchete de jornal?

O que descobriríamos se os jornalistas brasileiros fossem atrás das denúncias de sonegação que envolvem grandes grupos de comunicação e que não viram notícia no país?

por Intervozes — publicado 31/07/2014 21h32, última modificação 02/08/2014 14h58

Por Bruno Marinoni*

“Siga o dinheiro”, aconselhava William Mark Felt, o “garganta profunda”, aos jovens jornalistas que, nos anos 70, revelaram todo um esquema de espionagem e corrupção no interior da Casa Branca. O que não descobriríamos então se os jornalistas da mídia brasileira investigassem, por exemplo, a denúncia de que a Globo deve mais de R$ 600 milhões aos cofres públicos porque sonegou o imposto decorrente da compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002?

O caso, que já vinha sendo anunciado há algum tempo, ganhou novo capítulo no último dia 17 de julho, quando 29 páginas do processo na Receita Federal contra a Globo foram divulgados em um blog na internet. A emissora teria usado 10 empresas criadas em paraísos fiscais para esconder a fraude. Com o esquema, o sistema Globo teria incorrido em simulação e evasão fiscal. O imposto sobre importâncias enviadas para o exterior para aquisição de direitos de transmissão no caso da empresa beneficiária estar sediada em paraísos fiscais seria de 25%, se fosse pago.

E se os jornalistas da nossa mídia fossem, por outro exemplo, atrás do papel que a Igreja Universal, milionária e com isenção fiscal por se tratar de uma entidade religiosa, cumpre no financiamento da Record? Uma matéria intitulada “Macedo nega uso do dinheiro da igreja na compra de TV”, publicada na Folha de São Paulo, em setembro de 1998 (quando a emissora não era ainda uma competidora de peso), afirmou que investigações da Receita resultaram em uma multa de R$ 265 milhões ao grupo. A maior parte do pagamento, ou R$ 118 milhões, coube à Record; outros R$ 98 milhões, à própria Igreja Universal, e mais R$ 6 milhões, a Edir Macedo. Esses valores se refeririam a autuações e multas por sonegação fiscal e outras irregularidades.

Além disso, a imprensa já veiculou algumas vezes que a Igreja Universal compraria a faixa da madrugada da TV Record, que tem baixíssima audiência, por um preço muito acima do mercado. Todavia, até onde sabemos, nada foi feito para resolver essa questão.

Em 2010, foi a vez de Sílvio Santos, dono do SBT, se envolver em um escândalo de fraude fiscal, uma dívida de R$ 3,8 bilhões. O evento não se relacionava diretamente com os meios de comunicação, e sim com seu banco, o “Panamericano”. O dono da empresa, porém, empenhou todo o seu patrimônio, inclusive seus canais de TV, como garantia de que a dívida seria sanada.

Quando poucos grupos controlam os meios de comunicação, quando há concentração do poder midiático é fácil criar um bloqueio a informações desfavoráveis aos donos da mídia por meio de uma estratégia “positiva”: preenchendo-se a agenda de temas discutidos pela sociedade com uma série de assuntos que não atinjam os interesses daqueles que controlam os canais de comunicação.

Escândalos de corrupção e desvio de dinheiro público são sempre matérias na nossa imprensa, mas qual a seleção de casos que é feita? O que fica de fora? Quem fica de fora dessas páginas? Se há um grande número e diversidade de atores dirigindo os meios de comunicação, maior a possibilidade de nos relacionarmos com canais suficientemente independentes para nos fornecer informações de interesse público. Mas isso é algo em falta no Brasil.

* Bruno Marinoni é repórter do Observatório do Direito à Comunicação, doutor em Sociologia pela UFPE e integrante do Intervozes.

Filósofo e ex-ministro da Educação de Dilma critica falta de independência dos jornalistas e partidarização da imprensa no País

Fonte: Renato Janine Ribeiro: “No Brasil temos uma imprensa que efetivamente mente”

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O Brasil pode dar certo? – Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico – 30/12/2013

Nenhum inglês rico completava a educação, nos séculos XVII e XVIII, sem o “Grand Tour”, uma longa viagem ao continente europeu para conhecer cidades e artes. (O mais ilustre dos preceptores desses moços foi o filósofo Thomas Hobbes, que assim conheceu René Descartes.). Seria bom, hoje que a Europa está ao alcance da classe média, que nossos jovens a visitassem para aprender o que é uma realidade socialmente justa. Ao menos no núcleo duro da Europa Ocidental – França, Alemanha, Benelux, Escandinávia – uma cultura basicamente socialdemocrata se implantou após a Segunda Guerra e ainda resiste, formando um modelo de sociedade até hoje insuperado, superior ao nosso e ao norte-americano.

Levantei no Facebook a questão que considero a mais relevante para o Brasil: por que países devastados, como a Alemanha de 1945, ou atrasados, como a Espanha de 1975, conseguiram “dar certo” – e nós não? As respostas racharam. Em geral, quem se situa à “esquerda” protestou contra a ideia de “dar certo”, sustentando que nem os europeus vão bem nem nós, tão mal. Já quem se diz liberal receitou reformas econômicas, como a desregulamentação da atividade empresarial (o exemplo mais comum). Entendo que essas são duas formas de não responder à pergunta mais importante sobre a sociedade brasileira.
Começo discutindo as reações mais à esquerda.

Ética e gestão, os dois pilares da boa política
 

Primeiro, o que é uma sociedade “dar certo”? Entendo:

1) um sistema de saúde eficiente e justo. Eficiente: que todos sejam atendidos bem, em prazo razoável, pelo menos para a maioria esmagadora das moléstias. Justo: ninguém receie que uma doença possa destruir sua renda ou patrimônio; a sociedade, pelo imposto (em especial, o de renda da pessoa física), cobrirá os gastos de saúde. Imaginem como esse ganho em termos de saúde melhorará as aposentadorias. Ninguém precisará passar a vida acumulando para o dia em que pagará 2 mil reais de plano de saúde, mil de remédios e ainda consultas e cirurgias.

2) uma educação de qualidade, gratuita ou quase. A importância inédita que a sociedade contemporânea atribui à educação tem duas grandes metas. Primeira: proporcionar, a todos, condições de concorrer em certa igualdade, neutralizando o bônus que a riqueza confere a alguns (e o bônus negativo que a pobreza inflige à maioria). Segunda: deixar que aflorem as mais variadas competências. Nunca houve sociedade rica e complexa como a atual. Ela precisa de competências mais variadas do que sociedades que só repetiam o passado. Hoje há mais espaço para cada um seguir sua vocação. Uma educação boa realiza vocacionalmente o indivíduo e capacita-o, se mostrar dedicação e empenho, a se projetar economicamente.

3) um transporte público bom, em grande parte – pelo menos nas maiores cidades – sobre trilhos. Na Grande Paris, mesmo no horário de pico dificilmente se gasta mais de uma hora e quinze para ir de uma ponta dos subúrbios a outra – com ou sem acidentes na rota. O transporte coletivo deve ser subsidiado, porque traz vantagens para a cidade, preservando-a da destruição operada por carros e avenidas. O Brasil é perverso: subsidia o carro privado, com isenção de impostos e construção de vias; por que não o transporte coletivo, que é mais saudável?

4) uma segurança pública decente, com policiais que respeitem o cidadão em vez de ameaçá-lo, e sejam dispostos e capacitados a apurar crimes.

Todos estes pontos associam ética e eficiência, valores e gestão. Todos tratam do que é mais justo socialmente, e do que é mais eficaz, virtude esta que geralmente associamos à economia e à administração. A fusão da ética com a eficiência é o segredo – que aguardamos – da boa governança.

Poderia falar da cultura, que aprimora qualidades humanas e capacidades profissionais, e das cadeias, que em vez de educar para o crime deveriam recuperar os detentos (como nas prisões rurais autogeridas de Minas Gerais, tema de recente reportagem do Valor), mas fico no “minimum minimorum”. No Brasil, já seria uma revolução.

Esta satisfação das necessidades dá à Europa uma tranquilidade no convívio cotidiano. Se no Brasil as pessoas furam fila e passam pelo acostamento, em parte é pela crença de que “não vai haver o suficiente para todos”: precisamos garantir o nosso, antes que a oferta se esgote. Mas, quando há bastante para todos, isso não é necessário. A vida fica melhor. O valor disso não tem preço.

Por isso, estranhei tanta gente que se diz de esquerda fechar os olhos ao desastre social que é nosso atraso nestes pontos. Os avanços petistas na inclusão social apenas tornam prioritária a construção de uma sociedade social-democrática (pouco a ver com o que propõe nosso partido de nome socialdemocrata). As faixas exclusivas de ônibus recentemente abertas em São Paulo fazem parte dessa mudança, mas que precisa ir além do emergencial – como as cotas, o elogiado Bolsa Família – e se tornar estrutural.

Estes anos, aumentou o dinheiro para os pobres consumirem, mas não houve um salto real nas funções distintivas do poder público. É paradoxal. O partido mais acusado de estatista promoveu um crescimento que beneficiou os pobres, sem tirar dos ricos. Talvez esteja se esgotando essa conciliação de classes. Talvez por isso, os conflitos sociais se tornem ásperos.

Discutirei, na semana que vem, o que a centro-direita propõe para o país dar certo.

***
Na última coluna mencionei Boulez, mas o certo era Olivier Messiaen. Peço desculpas por ter confiado demais em minha memória. Mas me deu prazer receber várias mensagens de leitores apontando o erro. O Brasil conhece melhor a música erudita do que este amador imaginava.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.E-mail: rjanine@usp.br

 

 

O cão sem plumas – João Cabral de Melo Neto

O cão sem plumas

 

 

I. Paisagem do Capibaribe

 

A cidade é passada pelo rio

como uma rua

é passada por um cachorro;

uma fruta

por uma espada.

 

O rio ora lembrava

a língua mansa de um cão,

ora o ventre triste de um cão,

ora o outro rio

de aquoso pano sujo

dos olhos de um cão.

 

Aquele rio

era como um cão sem plumas.

Nada sabia da chuva azul,

da fonte cor-de-rosa,

da água do copo de água,

da água de cântaro,

dos peixes de água,

da brisa na água.

 

Sabia dos caranguejos

de lodo e ferrugem.

Sabia da lama

como de uma mucosa.

Devia saber dos polvos.

Sabia seguramente

da mulher febril que habita as ostras.

 

Aquele rio

jamais se abre aos peixes,

ao brilho,

à inquietação de faca

que há nos peixes.

Jamais se abre em peixes.

 

Abre-se em flores

pobres e negras

como negros.

Abre-se numa flora

suja e mais mendiga

como são os mendigos negros.

Abre-se em mangues

de folhas duras e crespos

como um negro.

 

Liso como o ventre

de uma cadela fecunda,

o rio cresce

sem nunca explodir.

Tem, o rio,

um parto fluente e invertebrado

como o de uma cadela.

 

E jamais o vi ferver

(como ferve

o pão que fermenta).

Em silêncio,

o rio carrega sua fecundidade pobre,

grávido de terra negra.

 

Em silêncio se dá:

em capas de terra negra,

em botinas ou luvas de terra negra

para o pé ou a mão

que mergulha.

 

Como às vezes

passa com os cães,

parecia o rio estagnar-se.

Suas águas fluíam então

mais densas e mornas;

fluíam com as ondas

densas e mornas

de uma cobra.

 

Ele tinha algo, então,

da estagnação de um louco.

Algo da estagnação

do hospital, da penitenciária, dos asilos,

da vida suja e abafada

(de roupa suja e abafada)

por onde se veio arrastando.

 

Algo da estagnação

dos palácios cariados,

comidos

de mofo e erva-de-passarinho.

Algo da estagnação

das árvores obesas

pingando os mil açúcares

das salas de jantar pernambucanas,

por onde se veio arrastando.

 

(É nelas,

mas de costas para o rio,

que “as grandes famílias espirituais” da cidade

chocam os ovos gordos

de sua prosa.

Na paz redonda das cozinhas,

ei-las a revolver viciosamente

seus caldeirões

de preguiça viscosa).

 

Seria a água daquele rio

fruta de alguma árvore?

Por que parecia aquela

uma água madura?

Por que sobre ela, sempre,

como que iam pousar moscas?

 

Aquele rio

saltou alegre em alguma parte?

Foi canção ou fonte

Em alguma parte?

Por que então seus olhos

vinham pintados de azul

nos mapas?

 

 

II. Paisagem do Capibaribe

 

Entre a paisagem

o rio fluía

como uma espada de líquido espesso.

Como um cão

humilde e espesso.

 

Entre a paisagem

(fluía)

de homens plantados na lama;

de casas de lama

plantadas em ilhas

coaguladas na lama;

paisagem de anfíbios

de lama e lama.

 

Como o rio

aqueles homens

são como cães sem plumas

(um cão sem plumas

é mais

que um cão saqueado;

é mais

que um cão assassinado.

 

Um cão sem plumas

é quando uma árvore sem voz.

É quando de um pássaro

suas raízes no ar.

É quando a alguma coisa

roem tão fundo

até o que não tem).

 

O rio sabia

daqueles homens sem plumas.

Sabia

de suas barbas expostas,

de seu doloroso cabelo

de camarão e estopa.

 

Ele sabia também

dos grandes galpões da beira dos cais

(onde tudo

é uma imensa porta

sem portas)

escancarados

aos horizontes que cheiram a gasolina.

 

E sabia

da magra cidade de rolha,

onde homens ossudos,

onde pontes, sobrados ossudos

(vão todos

vestidos de brim)

secam

até sua mais funda caliça.

 

Mas ele conhecia melhor

os homens sem pluma.

Estes

secam

ainda mais além

de sua caliça extrema;

ainda mais além

de sua palha;

mais além

da palha de seu chapéu;

mais além

até

da camisa que não têm;

muito mais além do nome

mesmo escrito na folha

do papel mais seco.

 

Porque é na água do rio

que eles se perdem

(lentamente

e sem dente).

Ali se perdem

(como uma agulha não se perde).

Ali se perdem

(como um relógio não se quebra).

 

Ali se perdem

como um espelho não se quebra.

Ali se perdem

como se perde a água derramada:

sem o dente seco

com que de repente

num homem se rompe

o fio de homem.

 

Na água do rio,

lentamente,

se vão perdendo

em lama; numa lama

que pouco a pouco

também não pode falar:

que pouco a pouco

ganha os gestos defuntos

da lama;

o sangue de goma,

o olho paralítico

da lama.

 

Na paisagem do rio

difícil é saber

onde começa o rio;

onde a lama

começa do rio;

onde a terra

começa da lama;

onde o homem,

onde a pele

começa da lama;

onde começa o homem

naquele homem.

 

Difícil é saber

se aquele homem

já não está

mais aquém do homem;

mais aquém do homem

ao menos capaz de roer

os ossos do ofício;

capaz de sangrar

na praça;

capaz de gritar

se a moenda lhe mastiga o braço;

capaz

de ter a vida mastigada

e não apenas

dissolvida

(naquela água macia

que amolece seus ossos

como amoleceu as pedras).

 

 

III. Fábula do Capibaribe

 

A cidade é fecundada

por aquela espada

que se derrama,

por aquela

úmida gengiva de espada.

 

No extremo do rio

o mar se estendia,

como camisa ou lençol,

sobre seus esqueletos

de areia lavada.

 

(Como o rio era um cachorro,

o mar podia ser uma bandeira

azul e branca

desdobrada

no extremo do curso

— ou do mastro — do rio.

 

Uma bandeira

que tivesse dentes:

que o mar está sempre

com seus dentes e seu sabão

roendo suas praias.

 

Uma bandeira

que tivesse dentes:

como um poeta puro

polindo esqueletos,

como um roedor puro,

um polícia puro

elaborando esqueletos,

o mar,

com afã,

está sempre outra vez lavando

seu puro esqueleto de areia.

 

O mar e seu incenso,

o mar e seus ácidos,

o mar e a boca de seus ácidos,

o mar e seu estômago

que come e se come,

o mar e sua carne

vidrada, de estátua,

seu silêncio, alcançado

à custa de sempre dizer

a mesma coisa,

o mar e seu tão puro

professor de geometria).

 

O rio teme aquele mar

como um cachorro

teme uma porta entretanto aberta,

como um mendigo,

a igreja aparentemente aberta.

 

Primeiro,

o mar devolve o rio.

Fecha o mar ao rio

seus brancos lençóis.

O mar se fecha

a tudo o que no rio

são flores de terra,

imagem de cão ou mendigo.

 

Depois,

o mar invade o rio.

Quer

o mar

destruir no rio

suas flores de terra inchada,

tudo o que nessa terra

pode crescer e explodir,

como uma ilha,

uma fruta.

 

Mas antes de ir ao mar

o rio se detém

em mangues de água parada.

Junta-se o rio

a outros rios

numa laguna, em pântanos

onde, fria, a vida ferve.

 

Junta-se o rio

a outros rios.

Juntos,

todos os rios

preparam sua luta

de água parada,

sua luta

de fruta parada.

 

(Como o rio era um cachorro,

como o mar era uma bandeira,

aqueles mangues

são uma enorme fruta:

 

A mesma máquina

paciente e útil

de uma fruta;

a mesma força

invencível e anônima

de uma fruta

— trabalhando ainda seu açúcar

depois de cortada —.

 

Como gota a gota

até o açúcar,

gota a gota

até as coroas de terra;

como gota a gota

até uma nova planta,

gota a gota

até as ilhas súbitas

aflorando alegres).

 

 

IV. Discurso do Capibaribe

 

Aquele rio

está na memória

como um cão vivo

dentro de uma sala.

Como um cão vivo

dentro de um bolso.

Como um cão vivo

debaixo dos lençóis,

debaixo da camisa,

da pele.

 

Um cão, porque vive,

é agudo.

O que vive

não entorpece.

O que vive fere.

O homem,

porque vive,

choca com o que vive.

Viver

é ir entre o que vive.

 

O que vive

incomoda de vida

o silêncio, o sono, o corpo

que sonhou cortar-se

roupas de nuvens.

O que vive choca,

tem dentes, arestas, é espesso.

O que vive é espesso

como um cão, um homem,

como aquele rio.

 

Como todo o real

é espesso.

Aquele rio

é espesso e real.

Como uma maçã

é espessa.

Como um cachorro

é mais espesso do que uma maçã.

Como é mais espesso

o sangue do cachorro

do que o próprio cachorro.

Como é mais espesso

um homem

do que o sangue de um cachorro.

Como é muito mais espesso

o sangue de um homem

do que o sonho de um homem.

 

Espesso

como uma maçã é espessa.

Como uma maçã

é muito mais espessa

se um homem a come

do que se um homem a vê.

Como é ainda mais espessa

se a fome a come.

Como é ainda muito mais espessa

se não a pode comer

a fome que a vê.

 

Aquele rio

é espesso

como o real mais espesso.

Espesso

por sua paisagem espessa,

onde a fome

estende seus batalhões de secretas

e íntimas formigas.

 

E espesso

por sua fábula espessa;

pelo fluir

de suas geléias de terra;

ao parir

suas ilhas negras de terra.

 

Porque é muito mais espessa

a vida que se desdobra

em mais vida,

como uma fruta

é mais espessa

que sua flor;

como a árvore

é mais espessa

que sua semente;

como a flor

é mais espessa

que sua árvore,

etc. etc.

 

Espesso,

porque é mais espessa

a vida que se luta

cada dia,

o dia que se adquire

cada dia

(como uma ave

que vai cada segundo

conquistando seu vôo).

 

A estante deslocada V

 

Rafael F. Carvalho

            Um amigo meu estava de mudança e pediu para eu guardar um de seus quadros. Era um quadro que mostrava pequenos veleiros ancorados. Toda a vez que eu o visitava, aqueles barcos estavam lá, com suas velas abaixadas. Não neguei seu pedido, levei o quadro para ficar em minha casa. Um quadro não deve ficar guardado, nem no chão. Peguei um prego e um martelo. Ele começou a ser parte de tudo. Os veleiros ficaram comigo até eu perder a conta dos dias desde que foram erguidos. Passei muito a estimá-los. Um dia meu telefone tocou, havia uma voz dentro dele dizendo que queria o quadro de volta. Minha parede ficou vazia dos veleiros que esperavam seus marinheiros. Ao olhar a mancha do quadro na parede, desci a serra em direção ao mar em busca de veleiros, e naveguei para o nunca mais.

veleiros

Estante deslocada IV

Rafael F. Carvalho

Quando eu era pequeno, houve uma terrível seca em nossa terra. Nenhuma planta sobreviveu, exceto a figueira. Nada mais cresceu, nem hortas nem outras frutas. Só podíamos cultivar figos, logo eu, que sempre detestara figos. Talvez fosse um castigo divino, uma vingança ou um aprendizado que deveríamos passar, mas só me lembro dos figos. Nem mesmo por necessidade eu conseguia gostar de figos. Com o passar dos anos minha família ficou conhecida pelos figos que produzíamos, vendemos figos para pessoas que vinham de lugares muito

distantes. Eu aprendi a plantar, cuidar, proteger das pragas, colher, guardar e vender. Se perguntavam se ele era bom, eu dava um pedaço para experimentar, não tinha outro jeito de saber se eram bons. Todos gostavam e compravam sem mais perguntar. O único figo que comi foi um que não coube na cesta e fiquei com pena de jogar fora. Hoje tenho muitas figueiras e sou conhecido por aquilo que detesto.

 

Figo

Autor de ‘As Aventuras de Pi’ é suspeito de plagiar brasileiro

da Livraria da Folha

Yann Martel, autor de “As Aventuras de Pi”, livro que inspirou o filme indicado ao Oscar (“Life of Pi”), é suspeito de ter plagiado a história de “Max e os Felinos”, de Moacyr Scliar (1937-2011).

Divulgação

História de um náufrago e uma fera num minúsculo barco no meio do oceano
Divulgação

História de um náufrago e uma fera num minúsculo barco no meio do oceano

Essa história começou quando o título recebeu o prêmio Booker de 2002. Na época, a imprensa suspeitou de plágio.

Mais de dez anos depois –temendo que a lendária “memória curta” dos brasileiros tenha algum fundamento–, vale relembrar o episódio.

Em “As Aventuras de Pi”, um adolescente indiano, filho do dono de um zoológico, acaba em um bote após um naufrágio. Um tigre-de-bengala –que aparece na capa do livro– faz companhia ao protagonista.

Em “Max e os Felinos”, um jovem alemão, que está fugindo do nazismo num navio que transporta animais, acaba em um bote após um naufrágio. Um jaguar –que aparece na capa do livro– faz companhia ao protagonista.

Médico e escritor

Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim, bairro judaico da cidade. Alfabetizado pela mãe, uma professora primária, Scliar cursou medicina na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autor de mais de 70 livros e colunista da Folha, o gaúcho escreveu de romances a crônicas, de literatura infantil a ensaios sobre história.

Passou a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2003. Recebeu prêmios Jabuti em 1988, 1993, 2000 e 2009. Scliar morreu no dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73, no Hospital das Clínicas de Porto Alegre, onde estava internado.

Eleito em 2002 pelo National Yiddish Book Center, dos Estados Unidos, um dos cem melhores livros de temática judaica escritos nos últimos 200 anos, “O Centauro no Jardim” é um romance sobre uma família judia na qual nasce um ser metade homem, metade cavalo.

Leia trecho da introdução ao livro “Max e os Felinos” escrita após as denúncias.

Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro “Escrevendo pela Nova Ortografia”.

*

INTRODUÇÃO
Moacyr Scliar

O Destino ainda bate à porta, claro, mas nesta época de comunicações instantâneas prefere o telefone. Na tarde de 30 de outubro de 2002, voltando para casa cansado de uma viagem, recebi uma ligação. Era uma jornalista do jornal O Globo, dando-me uma notícia que, a princípio, não entendi bem: parece que um escritor tinha ganho, na Europa, um prêmio importante com um livro baseado em um texto meu.

Minha primeira reação foi de estranheza: um escritor, e do chamado Primeiro Mundo, copiando um autor brasileiro? Copiando a mim? Ela se ofereceu para me dar mais detalhes, o que foi feito em telefonemas seguintes, e assim aos poucos fui mergulhando no que se revelaria, nos dias seguintes, um verdadeiro torvelinho, uma experiência pela qual eu nunca havia passado.

Sim, um escritor canadense chamado Yann Martel havia recebido, na Inglaterra, o prestigioso prêmio Booker, no valor de 55 mil libras esterlinas, conferido anualmente a autores do Common wealth britânico ou da República da Irlanda (entre outros: Ian McEwan, Michael Ondaatje, Kingsley Amis, J.M.Coetzee, Salman Rushdie, Iris Mur doch). Sim, ele dizia que havia se baseado em um livro meu, Max e os felinos, publicado no Brasil em 1981, pela L&PM (Porto Alegre), e traduzido poucos anos depois nos Estados Unidos como Max and the Cats (New York, Ballantine Books, 1990) e na França como Max et les Chats (Paris, Presses de la Renais sance, 1991). É uma pequena novela que escrevi com grande prazer – lembro-me de um fim de semana na serra gaúcha em que matraqueava animado a máquina de escrever, em todos os minutos em que não estava cuidando de meu filho, ainda pequeno.

Minha primeira reação não foi de contrariedade.

Ao contrário, de alguma forma senti-me envaidecido por ter alguém se entusiasmado pela idéia tanto quanto eu próprio me entusiasmara. Mas havia, na notícia, um componente desagradável e estranho, tão estranho quanto desagradável. Yann Martel não tinha, segundo suas declarações, lido a novela. Tomara conhecimento dela através de uma resenha do escritor John Updike para o New York Times, resenha desfavorável, segundo ele.

Esta afirmativa me perturbou. Max and the Cats não chegou a ser um best-seller, mas os artigos sobre o livro, que me haviam sido enviados pela editora, eram favoráveis – inclusive o do New York Times, assinado por Herbert Mitgang. Teria Updike escrito uma outra resenha – para o mesmo jornal? Se era esse o caso, por que eu não a recebera? Será que os editores só mandavam resenhas favoráveis?

À afirmativa seguia-se um comentário de Martel. Uma pena, dizia ele, que uma idéia boa tivesse sido estragada por um escritor menor. Mas, em seguida, levantava uma outra hipótese: e se eu não fosse um escritor menor? E se Updike tivesse se enganado? De qualquer maneira a idéia principal do livro serviu-lhe de ponto de partida para sua obra The Life of Pi. E qual é essa idéia?

O Max Schmidt de meu livro é um jovem alemão que está fugindo do nazismo e que embarca para o Brasil. O navio em que viaja, um velho cargueiro, transporta também animais de um zoológico. Há um naufrágio, criminoso, mas Max salva-se em um escaler. E de repente sobe a bordo um sobrevivente inesperado e ameaçador: um jaguar. Começa então a segunda parte da novela, que tem como título O jaguar no escaler.

Esta, a idéia que motivou Martel. O seu personagem, Piscine Molitor Patel, Pi, é um menino hindu cujo pai é dono de um zoológico. A família emigra para o Canadá, levando os animais a bordo. Há, na segunda parte do livro, um naufrágio (que depois será considerado criminoso). Pi salva-se. No mesmo barco estão um tigre de Bengala, um orangotango e uma zebra. O tigre liquida os três e Pi fica à deriva com o felino por mais de duzentos dias.

O texto de Martel é diferente do texto de Max e os felinos. Mas o leitmotiv é, sim, o mesmo. E aí surge o embaraçoso termo: plágio.

Embaraçoso não para mim, devo dizer logo. Na verdade, e como disse antes, o fato de Martel ter usado a idéia não chegava a me incomodar. Incomodava-me a suposta resenha e também a maneira pela qual tomei conheci mento do livro. De fato, não fosse o prêmio, eu talvez nem ficasse sabendo da existência da obra. No lugar de Martel eu procuraria avisar o autor. Aliás, foi o que fiz, em outra circunstância. Meu livro A mulher que escreveu a Bíblia teve como ponto de partida uma hipótese levantada pelo famoso scholar norte-americano Harold Bloom segundo a qual uma parte do Antigo Testamento poderia ter sido escrita por uma mulher, à época do rei Salomão. Tratava-se, contudo, de um trabalho teórico. Mesmo assim, coloquei o trecho de Bloom como epígrafe do livro – que enviei a ele (nunca respondeu – nem sei se recebeu -, mas eu cumpri minha obrigação). Martel agiu de maneira diferente. No prefácio, em que agradece a muitas pessoas, atribui a “fagulha da vida” (“the spark of life“) que o motivou a mim. Mas não entra em detalhes, não fala em Max e os felinos.

*

“Max e os Felinos”
Autor: Moacyr Scliar
Editora: L&PM
Páginas: 128
Quanto: R$ 13,90 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha

* Atenção: Preço válido por tempo limitado ou enquanto durarem os estoques. Não cumulativo com outras promoções da Livraria da Folha. Em caso de alteração, prevalece o valor apresentado na página do produto.

Texto baseado em informações fornecidas pela editora/distribuidora da obra.

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John Donne, one of the most famous Metaphysica...

John Donne, one of the most famous Metaphysical Poets. (Photo credit: Wikipedia)

Elizabeth Barrett Browning - Project Gutenberg...Elizabeth Barrett Browning – Project Gutenberg eText 16786 (Photo credit: Wikipedia)

PUBLICADO NA FOLHA DE SÃO PAULO

Ler autores clássicos, como Shakespeare, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente e a poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool publicado nesta terça-feira (15).

Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a “linguagem coloquial”.

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O poeta Thomas Stearns Eliot
O poeta Thomas Stearns Eliot

Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico “Daily Telegraph”, mostram que a atividade do cérebro “dispara” quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.

Esses estímulos se mantêm durante um tempo, potencializando a atenção do indivíduo, segundo o estudo, que utilizou textos de autores ingleses como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin.

Os especialistas descobriram que a poesia “é mais útil que os livros de autoajuda”, já que afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.

“A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças”, explica o professor David, encarregado de apresentar o estudo.

Após o descobrimento, os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens.

A Estante Deslocada III

Rafael F. Carvalho

         A vida se resume a momentos, simples como um dia que se vive bem, quando as horas passam sem percebê-las. Não quero a felicidade contínua, desejo um dia em que eu possa dizer: “hoje foi um dia bem vivido”. Se tudo fosse tão fácil assim! Quero que as semanas e os dias sejam plenos. Que tristeza procurar o impossível… trato eu de viver o dia com completude, pois o futuro está programado com a ressalva de saber que sou um homem de momentos. Sou um homem de momentos e realizo-me nas sementes que planto diariamente. Se alguém oferece algo, sem eu saber de nada, aceito de imediato. Se alguém oferece algo daqui a anos-luz, aceito de imediato igualmente. Sou um homem de imediatismos e programação, ambos sentam na mesma mesa como a coisa mais diária possível, fartando-se igualmente. Há dias em que alguns minutos valem por toda a vida e isso vale. Posso andar semanas em desertos monótonos para ver apenas uma pequena palmeira, posso navegar semanas em oceanos monótonos para chegar a uma ilha e nela permanecer poucas horas. Tenho apreço à gota d’água que cai no lago, mais que a um imenso diamante. Quando percebo, pequenas pedras brilhantes escorrem das árvores que plantei e o meu passado brilha com uma força descomunal.

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Vou; venha

 Colher o pomo de adão de seu

Pomar de prazeres impensáveis.

 

Escale o monte e depois, cansado,

Se enterre na cova que de Vênus nasce!

 

Podar a planta do meu pé para alçar voo

E atingir o céu estrelado de sua boca.

 

Atravessar a maçã do rosto com seus dentes

Até fazer brotar a fonte de meus olhos d’água.

Parte IV – O nem-sei-que-diga

Hoje, Bragança é conhecida por seus dotes gastronômicos. Sempre ouvia as tias de minha mãe enaltecendo a manteiga produzida lá como a melhor do Estado ou, quiçá, do Brasil. E a linguiça bragantina, então: nada se compara ao seu aroma. Nas estradas que dão acesso a essa modesta localidade, os moradores vendem com orgulho a melhor de todas as linguiças já produzidas em qualquer lugar.

No tempo de meus antepassados, porém, a cidade ficou famosa por outro motivo: o assassinato frio de meu tio-bisavô, Nicola. Toda colônia italiana ajudou a procurar o outro irmão Pedro, que estava desaparecido.

Passados dois dias, após várias buscas, encontraram-no caído numa vala. Fora degolado da mesma forma que o irmão. Meu nono, que ainda estava se recuperando, quando soube, veio a ter outro derrame. Por sorte, estava sob intensos cuidados médicos e foi socorrido rapidamente.

A nona chorava ininterruptamente. Ninguém conseguia consolá-la: nem padres nem bispo nem Cristo, embora não saísse da igreja.

O tempo foi passando e, notícias do crime solucionado, ninguém esperava mais. Era um mistério, ninguém conseguia imaginar quem teria coração tão frio para fazer algo assim.

Alguns especulavam se não seria o próprio coisa-ruim que viera à terra cometer tamanha maldade de fazer sofrer uma pobre senhora tão respeitada, tão religiosa, apenas para provar-lhe a fé. Ou talvez para fazê-la se revoltar contra o Deus que ela, até então, seguira submissamente. Enfim, fossem quais fossem os desígnios do Altíssimo, o fato de uma senhora tão boa sofrer assim não parecia justo aos moradores de Bragança.

E ainda por cima, a justiça tardava. Tudo indicava que os crimes passariam impunes, visto que as autoridades não colheram nenhum indício de quem os cometera.

Continuação: Escarrando no próprio prato

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Sombra

Cada vulto que surge

Chama você ao meu pensamento,

Aparição assustada e assustadora!

Eu canto o canto de criança que chora baixinho

Para não acordar os irmãos.

Escondo o rosto com as mãos pequeninas,

Querendo que a sombra atrás do móvel

Logo passe, não toque, não fale.

Engula o nó da garganta, se for capaz!

Nenhum passe vai tirar essa sombra de meu calcanhar!

16-06-2012

a sombra que me persegue

Epônimos Divinos

Num insondável labirinto auricular, perdi minha língua
E em minha hélice deitaram-se doces palavras
A turbilhonar, mesmo quando as proferia sem pretensão.

Fui mortalmente ferida pelas oscilações de seu arco do cupido.
Escalar meu monte para em seguida se atolar
Em minhas covinhas de Vênus foi mais nefasto
Que me ferir o calcanhar de Aquiles.

De seu singelo céu da boca brotam,
Como de grutas escoiceadas, as águas da vida,
Aonde todas as ninfas vêm se banhar,
Nas horas quentes do dia.

Não me transformou em pedra por estarem
Abertas minhas meninas-dos-olhos
E, finalmente, atravessou triunfante o arco de minhas sobrancelhas.
Caesar van Everdingen - Four Muses and Pegasus on Parnassus - 1650
Caesar van Everdingen – Four Muses and Pegasus on Parnassus – 1650

 

Hilas e as Ninfas, de John William Waterhouse (1896)
Hilas e as Ninfas, de John William Waterhouse (1896)

O lobo solitário II

Lobo-guará no cerrado
Lobo-guará no cerrado

 

Agora me tornei o lobo solitário.

Ele saiu de dentro de mim,

De onde estava entocado!

Com suas garras, com seus dentes,

Com sua fúria sem precedentes

Porque muito o atiçaram.

O lobo está cansado de sentir-se acuado!

Agora saiam da frente

Que a sujeição hoje é passado!

 

14-11-2012