Minha arrogância me fez, como Apolo, desdenhar de Eros.
Os descomedidos Romeu, Werther, Paolo e Francesca
Eram para mim caricaturas disformes e descontroladas,
Eram para mim fracos seres irracionais,
Eram para mim loucos…
Admirava a beleza de suas experiências
Que me atingia por sua elaboração estética.
Eis a que se resumia minha propalada
sensibilidade para o lirismo.
Cínica que eu fui,
Em tempos cínicos.
A ironia e o sarcasmo são nossos legados.
Ah! Tola! nem imaginava que tudo que eu havia
sentido até então eram mediocridades
Pela distância
pela avareza
pelo orgulho
causados pelo medo vital.
Acha-me sábia e experiente
Superior por me preocupar com as dores de amores dos desvairados.
Superior a ponto de sentir raiva dos descontroles alheios
que ferem,
que escandalizam,
que levam ao suicídio.
“O calor dos animais aqueceu melhor o menino Jesus
na manjedoura” do que eu a meus afetos.
Só agora entendo profundamente o que significa:
A experiência de Santa Tereza,
As pulsões que inspiraram “Uma temporada no Inferno”,
Que reli na Livraria Cultura entre lágrimas,
Por ter recebido essa graça desconhecida da maioria das pessoas;
Por só agora entender, não cerebralmente;
Por só agora entender não com o covarde
“cauteloso pouco a pouco” burguês
Ou com a aurea mediocritas clássica;
Por só agora entender vivendo o que significa
“The road of excess leads to the palace of wisdom;
for we never know what is enough
until we know what is more than enough.”
Chorei por só agora entender, não com a mente,
mas com cada fibra do meu corpo
Que agora, só agora pulsa em outra frequência.
Meu coração caiu a quatro palmos do lugar original.
Tudo que eu li,
Tudo que vi,
Tudo que toquei e degustei,
Precisarei provar novamente agora.