Mancebo

Jacó trabalhou como pastor para Labão
Durante sete anos para merecer a mão
de sua filha Raquel, serrana bela.
Mas se não a visse novamente,
antes de a Terra girar quatro
vezes mais ao redor do Sol,
Jacó, dela, se lembraria?

Tudo o que os olhos não viram,
naquela época remota da juventude,
o peito, agora maduro, ainda desejaria?
Nosso menino, ao crescer, nem das saias
De sua impúbere menina se esqueceu.

Ao contrário do pai de Raquel _que não
premiou Jacó, matando-o por dentro
ao entregar-lhe a outra filha mais velha, Lia,

_ o remendo das pontas soltas da vida
É o presente que receberá por sua espera.
Febre de mancebo dura a vida toda!

Thaís GM

06-09-2012

 

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Contraponto a:

Trecho do texto de Gian Luca para ler o texto completo acesso o link – Clamor do Sexo

Poema de Wordsworth declamado por Deani no fim do filme:

“What though the radiance which was once so bright Be now for ever taken from my sight, Though nothing can bring back the hour Of splendour in the grass, of glory in the flower; We will grieve not, rather find Strength in what remains behind”

Tradução.

“O que de esplendor outrora tão brilhante agora seja tomado de minha vista para sempre. Apesar de que nada pode trazer de volta a hora de esplendor na relva, de glória numa flor, não nos afligiremos. Encontraremos forças no que ficou para trás.” Wordsworth

 

 

 

 

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Olhos II

“Jaraguá” gravura de Evandro Carlos Jardim

Lá fora o frio fere a alma,

Mas dentro padece

com o calor opresso.

Nos cumes de montes remotos,

O branco reluz seu lume.

E o universo todo, pela distância,

Tenta caber na moldura de uma janela.

Mas os olhos sabem

Que nessa messe

Só dentro deles

a vida inteira cabe.

Duplo Carimbo

Quando insisto que preciso

Ser as roupas que te envolvem,

Ninguém entende o motivo.

À tua pele estaria colada,

Te revestindo, te protegendo

Do frio, do sol, da chuva,

De olhares que alhures

Pudessem perturbar teu pudor

E enciumar esta distante

Imaginação que te perscruta.

Ao me perfumar, teus doces bálsamos,

Curariam a ânsia que me domina.

O espectro de tua presença

Se impregnaria em meus

Tecidos me acompanhando.

Tuas formas se desenhariam em mim,

Grudadas ao entrelaçamento de meus fios,

Guardando a memória residual de tua estada.

Também meus botões, fechos,

Costuras marcariam tua pele.

Assim, viveríamos numa troca

eterna: ora te sigo

Ora  me segues,

Como duplo carimbo.

O Portal da Vida e da Morte





Quando estava perdido,
Tentando conciliar a dor e a alegria,
O corpo e o espírito,
Você e eu,
Soube que existe um lugar,
Um lugar onde há um portal,

O “Portal da Vida e da Morte”.
O portal que nos levará à Revolução tão esperada,
Quando, finalmente, o claro e o escuro,
a pedra e a pluma,
o céu e a terra serão parte de um mesmo todo,
Sem se digladiar.
Mas onde o Portal da Vida e da Morte estará?
Só sei que é perto do “Ponto de Ouro de um Milhão".
Esse é o segredo da vida, que há pouco intuí, mas nunca completo vi.

Bizarro

Dói tanto em mim a dor da tua solidão,

Dói tanto, que se, para ti,

Tomasses outra pessoa qualquer,

Através dela, sentiria que estamos

juntos numa perfeita comunhão.

 

Como gêmeos que habitam o mesmo corpo

Ou entidade que incorpora alguém,

através dela, moveria meu ser

E sentiria que tu me possuis também.

 

 

Ao sentir essa mulher,

Porque serei uma, se te convêm,

Formaríamos uma fraternidade,

Uma santíssima trindade

tão sagrada, que todos teriam de dizer amém.

Até mesmo tu, que não acreditas em ninguém…

Requerer

 

Como pedir a uma gota de chuva que se suspenda no ar?

Como pedir, em pleno voo, às asas dos pássaros que parem de bater?

Como pedir ao vento que pare de soprar?

Ou a um rio que pare de correr;

 

Como solicitar a um tigre faminto que não devore sua presa?

Ou requerer a um raio que interrompa seu curso,

Para não chamuscar uma árvore indefesa?

Ou pedir ao sol que pare de brilhar?

Como? Como? Como?

Só as rochas podem pedir uma coisa assim…

Se algo se consegue controlar prudentemente,

É porque seu querer não é tão ardente…

Perdão, padre, porque pequei!

_Perdão, padre, porque pequei!

Tive um sentimento vergonhoso,

não consigo contar.

_O que foi, minha filha?

Deus é misericordioso.

_Tive innnvejjaa.

_O quê? Inveja?

_Sim, inveja.

_De quem?

_Da cantineira de minha escola.

_Mas por quê?

_Porque ela sabe virar

panquecas no ar…

_Só isso?

_Não, também tive inveja

Das moças que dormem…

_Como?

_Sim padre, das moças que dormem.

_Só isso?

_Não, tive também dos pássaros que voam,

Dos peixes que podem ir

a lugares onde não posso estar.

Tenho inveja de tanta coisa…

Das roupas de meu amado,

Do ar que ele respira.

Nem a luz escapa.

E dos mortos todos

que talvez já saibam

de coisas que eu não sei

e talvez estejam reunidos em algum altar

aonde eu não sei quando vou chegar,

Ou talvez já não sintam mais

O mundo todo fora do lugar…

Jacareí, 24 de junho de 2012