Rafael F. Carvalho
Quando eu era pequeno, houve uma terrível seca em nossa terra. Nenhuma planta sobreviveu, exceto a figueira. Nada mais cresceu, nem hortas nem outras frutas. Só podíamos cultivar figos, logo eu, que sempre detestara figos. Talvez fosse um castigo divino, uma vingança ou um aprendizado que deveríamos passar, mas só me lembro dos figos. Nem mesmo por necessidade eu conseguia gostar de figos. Com o passar dos anos minha família ficou conhecida pelos figos que produzíamos, vendemos figos para pessoas que vinham de lugares muito
distantes. Eu aprendi a plantar, cuidar, proteger das pragas, colher, guardar e vender. Se perguntavam se ele era bom, eu dava um pedaço para experimentar, não tinha outro jeito de saber se eram bons. Todos gostavam e compravam sem mais perguntar. O único figo que comi foi um que não coube na cesta e fiquei com pena de jogar fora. Hoje tenho muitas figueiras e sou conhecido por aquilo que detesto.