O operário que sonhava em ser poeta – parte I – In memoriam de Manir de Godoy

 

VIOLINISTA AZUL, de Marc Chagall

Era uma vez um menino meio nômade,

Que vivia entre o interior e a cidade grande.

O pai morrera de gangrena.

A mãe costureira sustentava com esforço seis filhos: Eupídio, Cássio, Dirce, Tó, Manir e Iracema.

Vendedor de doces no cinema, engraxate,

Chegou a operário de fábrica de chocolate.

Nada fantástica era a vida desse guri,

Que vivia em um cortiço no Pari.

Mas tudo mudou no dia em que encontrou

As letrinhas de metal jogadas na calçada,

Que formaram o primeiro poema do menino sentado no meio fio.

As letrinhas graciosas eram seu único brinquedo nas horas vagas.

Um dia, o dono das letras o viu

E chamou para trabalhar.

Ali, sua formação interrompida continuaria.

O menino-operário da tipografia,

Montava admirado textos de poetas, de romancistas e de aspirantes a artistas;

Panfletos dos primeiros socialistas.

Aprendia tudo de todos que viviam a sua volta.

Com muito esforço, lia de Lobato e Verne ao Príncipe Valente e Flash Gordon,

Assim foi se alfabetizando.

 

No cortiço, sua mãe temerária

Não levava desaforo pra casa!

Com ela aprendeu a ser valente.

 

Engajado na causa operária,

Começou a ler obras mais sisudas

Do que as que lera numa escola em Bragança Paulista.

Era taxado de comunista!

Admirava o “cavaleiro da esperança”…

Por isso, aos 16, fugiu de casa e fundou o PC em São João da Boa Vista.

Lá, via filmes do Mazzaropi,

Dormia em carros alheios,

Tocava violino na praça…

 

Thaís de Godoy, 12-04-2012.

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