
Era uma vez um menino meio nômade,
Que vivia entre o interior e a cidade grande.
O pai morrera de gangrena.
A mãe costureira sustentava com esforço seis filhos: Eupídio, Cássio, Dirce, Tó, Manir e Iracema.
Vendedor de doces no cinema, engraxate,
Chegou a operário de fábrica de chocolate.
Nada fantástica era a vida desse guri,
Que vivia em um cortiço no Pari.
Mas tudo mudou no dia em que encontrou
As letrinhas de metal jogadas na calçada,
Que formaram o primeiro poema do menino sentado no meio fio.
As letrinhas graciosas eram seu único brinquedo nas horas vagas.
Um dia, o dono das letras o viu
E chamou para trabalhar.
Ali, sua formação interrompida continuaria.
O menino-operário da tipografia,
Montava admirado textos de poetas, de romancistas e de aspirantes a artistas;
Panfletos dos primeiros socialistas.
Aprendia tudo de todos que viviam a sua volta.
Com muito esforço, lia de Lobato e Verne ao Príncipe Valente e Flash Gordon,
Assim foi se alfabetizando.
No cortiço, sua mãe temerária
Não levava desaforo pra casa!
Com ela aprendeu a ser valente.
Engajado na causa operária,
Começou a ler obras mais sisudas
Do que as que lera numa escola em Bragança Paulista.
Era taxado de comunista!
Admirava o “cavaleiro da esperança”…
Por isso, aos 16, fugiu de casa e fundou o PC em São João da Boa Vista.
Lá, via filmes do Mazzaropi,
Dormia em carros alheios,
Tocava violino na praça…
Thaís de Godoy, 12-04-2012.