Imaginei como seria um poema escrito por meu pai em homenagem a Carlos Bueno Guedes e Federico Garcías Lorca, ambos artistas presos por regimes totalitários que esmagam pessoas idealistas e temem em excesso perigosos poetas.
Infelizmente, meu pai faleceu e não teve oportunidade de conhecer a história de Carlos, seu teatro, seus milhares de poemas e nenhum livro publicado ainda, um poeta torturado pelo regime militar no Brasil.
Fico imaginando que meu pai e o Sr. Carlos poderiam ter se tornado grandes amigos, se os seus caminhos pelo mundo tivessem se cruzado e esse encontro hipotético de dois idealistas inspiraria um poema, talvez semelhante a este.
Poeta obscuro,
Eu vejo você quando chora à noite
Por seus sonhos perdidos
E em sua cela sozinho, deseja dormir
E talvez sonhar.
Eu vejo quando sente o peso das injustiças
Presentes e passadas, sem conseguir mais orar.
Eu vejo você quando quer braços quentes
E abraça o vazio.
Vejo seus ombros caídos de tanto lutar.
Vejo o desespero em seus olhos nas horas fatais.
Sinto sua vertigem,
Quando o ponto sem retorno avança sutil.
Sei que você sabe que as tiranias
Sempre vão longe demais,
Não suportam alegria
E condenam ideais.
Vejo seu coração quando um obtuso pelotão
Se prepara para atirar.
Manir de Godoy*