Chuva
de Ricardo Costa
Eu quero chuva
Chuva molhada
Quero um céu
Pesado e cinza
Que me dê esperanças
De que mais chuva virá
Muita, mas muita água
Quero que molhe
Quero que lave
Quero ver poças refletidas
Numa tênue claridade
Quero acordar
E ver que choveu
Noite inteira sem parar
E se possível
Ao acordar que ainda chova
Chuva contínua
Nada de sol triturando
Meu espírito não bate com o sol
Está mais para o griset
Que conviva com
A solidão doce que sinto
Não quero gente
Gente cansa
E já estou muito cansado
Olho para trás e
Penso que tenho direito
Ao cansaço pois já
Vi tantos céus
Vi horizontes
Noites e dias
Vivi noites a sós
Enganando a mim
Quanta tolice
Tanto tempo correndo no nada
Para encontrar nada
Pura ilusão
E o tempo não ajuda
Corre muito
Muito mais do que posso sonhar
Quero então
Chuva úmida, suave
Caindo e batendo
Em minha janela
Chuva, só chuva caindo
De pingo pingado
Bem cadenciado
Com seu toque singelo
De gélido silêncio
Apenas silêncio
Silêncio.