Obama, escute o clamor dos povos!

Carta do Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, ao presidente dos EUA, Barack Obama, sobre a intervenção militar na Síria

12/09/2013

Adolfo Pérez Esquivel

A situação na Síria é preocupante e uma vez mais os EUA, instituindo-se o vigia do mundo, pretende invadir a Síria em nome da “Liberdade” e dos “direitos humanos”.

Seu antecessor, George W. Bush, em sua loucura messiânica, soube instrumentalizar o fundamentalismo religioso para levar a cabo as guerras no Afeganistão e Iraque. Quando declarava que conversava com Deus, e Deus lhe dizia que tinha que atacar o Iraque, o fazia porque era vontade de Deus levar a “liberdade” ao mundo.

Você tem falado, por causa dos 50 anos da morte do Reverendo Luther King, também Prêmio Nobel da Paz, da necessidade de completar o “Sonho” da mesa compartilhada, de quem foi a mais significativa expressão de luta pelos direitos civis contra o racismo na primeira democracia escravista do mundo. Luther King foi um homem que deu sua vida pela vida, e por isso é um mártir do nosso tempo. Mataram-no depois da Marcha por Washington porque ameaçava com desobediência civil a cumplicidade com a guerra imperialista contra o povo de Vietnã. Realmente acredita que invadir militarmente a outro povo é contribuir com esse sonho?

Armar rebeldes para depois autorizar a intervenção da OTAN, não é algo novo por parte de seu país e seus aliados. Tampouco é novo que os EUA pretendam invadir países acusando-os de posse de armas de destruição em massa, o que no caso do Iraque não deu certo. Seu país apoiou o regime de Saddam Hussein, que utilizou armas químicas para aniquilar a população curda e contra a Revolução Iraniana, e não fez nada para sancioná-lo porque nesse momento eram aliados. Contudo, agora pretendem invadir a Síria sem sequer saber os resultados das investigações que a ONU está fazendo com autorização do mesmo governo sírio. Certamente que o uso das armas químicas é imoral e condenável, porém seu governo não tem autoridade moral alguma para justificar uma intervenção

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmou que um ataque militar na Síria poderia agravar o conflito.

Meu país, a Argentina, que está presidindo o Conselho de Segurança da ONU, tornou pública sua posição contrária à intervenção militar estrangeira na República da Síria negando-se a ser “cúmplice de novas mortes”.

O Papa Francisco também fez um chamado para globalizar o pedido de paz e decretou uma jornada de jejum e oração contra a guerra para o dia 7 de setembro, à qual aderimos.

Até seu histórico aliado, a Inglaterra, se negou (ao menos no momento) a participar da invasão.

Seu país está transformando a “Primavera Árabe” no inferno da OTAN, provocando guerras no Oriente Médio e desencadeando a rapina das corporações internacionais. A invasão que pretende contra a Síria levará a mais violência e mais mortes, assim como a desestabilização do país e da região. Com qual objetivo? Um lúcido analista, Roberto Fisk, está certo de que o objetivo é o Irã e postergar a concretização do Estado palestino; não é a indignação com as mortes de milhares de jovens sírios o que os motiva a intervir militarmente. E justamente quando o Irã conseguiu um governo moderado, onde se poderia colaborar para conseguir um cenário de negociação pacífica para os conflitos existentes. Essa política será suicida por sua parte e de seu país.

A Síria necessita de uma solução política, não militar. A comunidade internacional deve dar seu apoio às organizações sociais que buscam a paz. O povo sírio, como qualquer outro, tem direito a sua autodeterminação e a definir seu próprio processo democrático, e devemos ajudar naquilo que nos solicitarem.

Obama, seu país não tem autoridade moral nem legitimidade para invadir a Síria nem nenhum outro país. Muito menos depois de ter assassinado 220 mil pessoas no Japão lançando bombas de destruição em massa.

Nenhum congressista do parlamento dos Estados Unidos pode legitimar o que é ilegítimo, nem legalizar o que é ilegal. Em especial levando em conta o que disse há alguns dias o ex-presidente estadunidense James Carter: “os EUA não têm uma democracia que funcione”.

As escutas ilegais que seu governo realizou ao povo estadunidense não parecem ser de todo eficientes, porque segundo uma pesquisa da Reuters, 60% deles se opõem à invasão. Por isso te pergunto, Obama: A quem obedeces?

Seu governo se converteu em um perigo para o equilíbrio internacional e para o próprio povo estadunidense. Os EUA se tornou um país que não pode deixar de exportar a morte para manter sua economia e poderio. Não deixaremos de tentar impedi-lo.

Estive no Iraque depois dos bombardeios que os EUA realizaram na década de 1990, antes da invasão que derrubou Saddam Hussein. Vi um refúgio cheio de crianças e mulheres assassinados por mísseis teleguiados. “Danos colaterais”, os chamam vocês.

Os povos estão dizendo BASTA às guerras. A humanidade reclama a paz e o direito de viver em liberdade. Os povos querem transformar as armas em ferramentas agrícolas, e o caminho para consegui-lo é “DESARMAR AS CONSCIÊNCIAS ARMADAS”.

Obama, nunca ouviste que sempre colhemos os frutos do que semeamos. Qualquer ser humano saberia semear paz e humanidade, principalmente um Prêmio Nobel da Paz. Espero que não acabe convertendo o “sonho de fraternidade” que suspirava Luther King em um pesadelo para os povos e a humanidade.

Receba o cumprimento de Paz e Bem.

Adolfo Pérez Esquivel

04/09/2013

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Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet

“Este livro não é um manifesto.
Não há tempo para isso.
Este livro é um alerta.”
Julian Assange

Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet é o primeiro livro de Julian Assange, editor-chefe e visionário por trás do WikiLeaks, a ser publicado no Brasil. A edição brasileira, da Boitempo, tem a colaboração do filósofo esloveno Slavoj Žižek e da jornalista Natalia Viana, parceira do WikiLeaks no Brasil e coordenadora da agência Pública de jornalismo investigativo.

Prevista para sair na primeira semana de fevereiro, a obra é resultado de reflexões de Assange e de um grupo vanguardista de pensadores rebeldes e ativistas que atuam nas linhas de frente da batalha em defesa do ciberespaço (Jacob Appelbaum, Andy Müller–Maguhn e Jérémie Zimmermann). A questão fundamental que o livro apresenta é: a comunicação eletrônica vai nos emancipar ou nos escravizar?

Apesar de a internet ter possibilitado verdadeiras revoluções no mundo todo, Assange prevê uma futura onda de repressão na esfera on-line, a ponto de considerar a internet uma possível ameaça à civilização humana. O assédio ao WikiLeaks e a ativistas da internet, juntamente com as tentativas de introduzir uma legislação contra o compartilhamento de arquivos, caso do Sopa (Stop Online Piracy Act) e do Acta (Anti-Counterfeiting Trade Agreement), indicam que as políticas da internet chegaram a uma encruzilhada. De um lado, encontra-se um futuro que garante, nas palavras de ordem dos cypherpunks, “privacidade para os fracos e transparência para os poderosos”; de outro, a ação da parceria público-privada sobre os indivíduos, que permite que governos e grandes empresas descubram cada vez mais sobre os usuários de internet e escondam as próprias atividades, sem precisar prestar contas de seus atos.

O livro aborda temas polêmicos, como a ideia de que o Facebook e o Google seriam, juntos, “a maior máquina de vigilância que já existiu”, capaz de rastrear continuamente nossa localização, nossos contatos e nossa vida. Nesse contexto, seremos colaboradores dispostos a ceder docilmente tais informações? Será que temos a capacidade, através da ação consciente e do conhecimento tecnológico, de resistir a essa tendência e garantir um mundo em que a internet possa ajudar a promover a liberdade? E existiriam formas legítimas de vigilância, por exemplo aquela usada contra os chamados “quatro cavaleiros do Infoapocalipse” (lavagem de dinheiro, drogas, terrorismo e pornografia infantil)?

Assange e os outros debatedores trazem à tona questões complexas relacionadas a essas escolhas cruciais ao refletir sobre vigilância em massa, censura e liberdade, assim como sobre o movimento cypherpunk, que usa a criptografia como mecanismo de defesa dos indivíduos contra a apropriação da internet pelos governos e empresas. Os cypherpunks defendem a utilização desse e de outros métodos similares como meio para provocar mudanças sociais e políticas. O movimento atingiu o auge de suas atividades durante as “criptoguerras”, sobretudo após a censura da internet em 2011, na Primavera Árabe. O termo cypherpunk, uma derivação de cipher (escrita cifrada) e punk, foi incluído no Oxford English Dictionary em 2006.

Julian Assange tem sido uma voz proeminente no movimento cypherpunk desde sua criação, nos anos 1980. Ele foi responsável por inúmeros projetos de software alinhados com a filosofia do movimento, inclusive o código original para o WikiLeaks. Desde dezembro de 2010, o ativista tem sido mantido em prisão domiciliar no Reino Unido, sem que qualquer acusação formal tenha sido feita contra ele. Temendo ser extraditado para a Suécia, que poderia entregá-lo às autoridades norte-americanas (as quais já manifestaram seu interesse em julgá-lo por espionagem e fraude), Assange conseguiu asilo político na Embaixada do Equador em Londres, onde permanece desde junho de 2012. Nesse período, tem se dedicado a promover debates sobre a sociedade contemporânea com grandes intelectuais de todo o mundo – e foi nesse contexto que escreveu Cypherpunks.

Sobre o livro

“O caso WikiLeaks é sintoma de uma tendência muito mais ampla e perigosa: nossas instituições políticas e jurídicas estão empenhadas em sistematicamente censurar e restringir os potenciais democráticos da nova mídia digital. É por essa razão que o livro de Assange constitui uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada na realidade de nossas liberdades.” – Slavoj Žižek

Cypherpunks é uma leitura emocionante e vital, que explica claramente como o controle corporativo e governamental da internet representa uma ameaça fundamental para a nossa liberdade e democracia.” – Oliver Stone

Sobre os autores

Julian Assange é o editor-chefe e visionário por trás do WikiLeaks. Originalmente um participante da lista de discussão Cypherpunk, hoje é um dos maiores expoentes desse movimento no mundo. É autor de inúmeros projetos de software alinhados à filosofia cypherpunk.

Jacob Appelbaum é um dos fundadores da Noisebridge, em São Francisco, membro do Chaos Computer Club de Berlim, defensor e pesquisador do Tor Project e desenvolvedor de softwares. Na última década, concentrou-se em ajudar ativistas em defesa do meio ambiente e dos direitos humanos. Desde que assumiu o lugar de Julian Assange em uma palestra, vem sendo perseguido e assediado com ameaças veladas e explicitas do aparato repressivo do Estado.

Andy Müller-Maguhn é veterano do Chaos Computer Club, cofundador da European Digital Rights (Edri) e representante europeu eleito do Icann, responsável pela elaboração de políticas internacionais para a determinação de “nomes e números” na internet. Trabalha atualmente com a criptografia nas telecomunicações e a investigação sobre a indústria da vigilância.

Jérémie Zimmermann é cofundador e porta-voz do grupo de defesa do anonimato na internet La Quadrature du Net, que recentemente conquistou uma vitória histórica na política europeia, organizando uma campanha pública para derrotar o Acta no Parlamento Europeu. Além de se dedicar a criar ferramentas para a viabilização da interatividade em debates públicos, tem se envolvido profundamente nas questões de direitos autorais, no debate sobre a neutralidade da rede e em outras questões legislativas que tangem ao uso da internet.

English: Julian Assange at New Media Days 09 i...
English: Julian Assange at New Media Days 09 in Copenhagen. (Photo credit: Wikipedia)