Trechos de “A Montanha Mágica”
“Manifestam pouca cultura os viajantes que zombam dos costumes e dos conceitos dos povos que os acolhem; há muitos tipos de qualidades suscetíveis de conferir honra a quem as possui.”
“A música desperta o tempo; desperta a nós, para tirarmos do tempo um gozo mais refinado; desperta… e portanto é moral. A arte é moral na medida em que desperta.”
“Certamente é bom que o mundo conheça apenas a obra bela e não as suas origens nem as condições em que foi gerada; pois o conhecimento das fontes de onde provém a inspiração para o artista causaria frequentemente perturbação e espanto, neutralizando assim os efeitos da excelência.”
“Parece que será necessário procurar a moral não na virtude, quer dizer, não na razão, na disciplina, nos bons modos, na honestidade – mas sobretudo no contrário, eu quero dizer: no pecado; se lançando ao perigo, ao que é nocivo, àquilo que nos consome. Parece-nos que é mais moral se perder e mesmo se deixar debilitar do que se conservar. Os grandes moralistas não são virtuosos, mas aventureiros no mal, nos vícios, nos grandes pecados que tentam nos inclinar cristianamente diante da miséria. Tudo isso deve te desagradar muito, não é?”
“Oh, o amor, tu sabes… O corpo, o amor, a morte, esses três não se separam. Pois o corpo é a doença e a volúpia, e é ele que faz a morte, sim, eles são sensuais os dois, o amor e a morte, e seus terrores e sua grande magia! Mas a morte, tu compreendes, é, de um lado, uma coisa difamada, insolente, que nos faz corar e nos envergonha; e por outro lado é uma pulsação muito solene e muito majestosa – maior que a vida risonha de ganhar dinheiro e de encher a barriga – muito mais venerável que o progresso que tagarela pelo tempo – porque ela é a história e a nobreza e a piedade e o eterno e o sagrado que nos faz tirar o chapéu e andar com as pontas dos pés.”