Ser exposto é ser crucificado.
Todos temos um pouco
Do leão e do cordeiro,
Da vítima e do algoz.
Se alguém desfecha
sua ira sobre nós,
queremos esse alguém aniquilado.
Todos os dias pregamos
as mãos de alguém no madeiro,
Por isso o mito é eterno
E o homem pequeno.
Thaís de Godoy
Resposta
Nem tigre nem cordeiro, apenas eu,
A duras penas, e esse estranho dom.
Ao submundo, guiado pelo som,
Desceu Tamuz e depois dele Orfeu.
Eu nada resgatei. Um sono bom
Já me envolvia quando amanheceu
E a luz cegou-me com seu brilho ateu.
E, após toda cor tinha um novo tom.
Com que metro se mede o sofrimento?
Mitos morrem. Ninguém morreu por mim.
Sou só um homem, mas sou livre, sim.
Vislumbro os céus vazios e o momento
Cai, mais denso do que o que não tem fim.
A cruz apodrecida oscila ao vento.
RHC
Tréplica
Usar Orfeu, Osíris, céu, cruz e ser entendido seu sentido metafórico indica que esses mitos são atemporais enquanto sua memória for resgatada através da Arte e da História. Todas são referências culturais vivíssimas, ainda que para um número limitado de pessoas, (mas hoje basta “dar um Google”). Em outro sentido, o tema da ressurreição está presente em todos eles: eles morrem, mas voltam à vida ou quase, como Eurídice, se o Orfeu não pisasse na bola.
“O mito é o nada que é tudo”, você sabe de quem!