Vício

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Sísifo, de Ticiano, 1549
Sim, sempre tenho um vício.
Subscrevo, confesso, admito!

Sim, sou viciada, mas não naquilo que imagina o meritíssimo.
Mas sim em querer coisas que nunca existiram.

Viciada em fingir um poema para cada instante que deveria ser eterno:
Cada pequena folha que de uma árvore cai sem fazer alarde;
Cada música que em mim provoca um sentimento terno;
Cada cão sarnento que em minha rua late;
Cada carcaça cansada que em minha cama arde;
Cada cabeça que rola,  secando ao sol e esfriando ao relento...

É vício porque é inútil como trabalho de Sísifo.
Se me proponho a fazê-lo, porém, saia do meu caminho!

04-01-2013

Vício

Sísifo, de Ticiano, 1549

Sim, sempre tenho um vício.

Subscrevo, confesso, admito!

Sim sou viciada, porém não naquilo

Que imagina o meritíssimo

E sim em ver luzes que não existem.

Viciada em contar histórias para cada coisa

Que quero que viva eternamente em forma de letra:

Cada pequena folha que da árvore cai sem fazer alarde

Cada cão sarnento que em minha rua late

Cada cabeça que rola no solo e jaz fétida,

Secando ao sol e esfriando ao relento.

É vício porque é inútil

Como trabalho de Sísifo.

Se me proponho a fazê-lo, porém,

Saia de meu caminho!

 

04-01-2013