Sobrecarga

Coletivo Sincronistas

Emoções em alta voltagem

Há um fio desencapado provocando faíscas no escuro.
O atrito das partículas que desencadeiam tais fagulhas zumbem e zunem como abelhas iluminadas.
Um chiado intermitente rouba o sono de toda a casa.

Toda vez que esse fio roça em algo metálico, o chiado retorna e desperta os viventes. É um grito inanimado, um curto-circuito. Todos acordam, buscando, desesperados, a origem dos ruídos. É preciso impedir que a eletricidade se alastre, impedir o incêndio, a desgraça.

Cuidando para não serem eletrocutados, os moradores apalpam às cegas o breu, tropeçam em objetos, memórias, em si mesmos, a urgência apressando seus passos para defender a residência em perigo. E embora haja o risco de serem mortos pela descarga elétrica, seguem, sonâmbulos, a trilha da eletricidade.

Até que um deles, após muito tatear, encontra o quadro de força e o desliga. Um outro chiado, de fósforo riscado, rompe o silêncio e…

Ver o post original 131 mais palavras

Tem dias

Coletivo Sincronistas

Tem dias

Tem dias que tudo é esquisito…
Tem dias que nada quer fazer sentido:
o normal se desfaz em um mar de paradoxos.

Tem dias que eu não quero limpar a mesa,
e nem lavar a louça.

Tem dias que as lembranças me laçam pelo pescoço,
se enrolam pelo meu corpo, me possuem
me enlouquecem, arrancam meus suspiros, e se vão.

Tem dias que quero fumar um cigarro
encher o pulmão de veneno
para matar o que lacera por dentro…

Tem dias que está tudo bem, muito bem
mas algo ruim está sempre soprando
um bafo quente e pesado na nuca.

Tem dias que o choro acontece,
a língua endurece,
a boca emudece,
mas o coração não estremece…

Tem dias, e eu faço que tudo bem,
que a tempestade se faz e inunda minha alma.
Um rodemoinho violento me engole, tudo defaz.
No meu rosto, nada demais.

Tem dias, e isso todo mundo e todos os dias,
que ninguém conhece o turbilhão que vive
por trás da iris de cada um.

Ver o post original