Ontem, o frio cortava minhas faces distraídas,
ao passar por um longo corredor sombrio.
Um frio que me lembrava toda a imensa crueldade do mundo.
Num lance, porém, um calor atravessou meu corpo.
Uma sombra quente, diferente dos fantasmas
que , como todos sabem, trazem ainda mais frio.
A sombra escapou do seu dono por alguns minutos
E se instalou em meu peito
E me acompanhou através do corredor.
Tão concreto foi, que olhei em volta procurando o dono da sombra
Como se ele me observasse escondido em algum canto.
Mas nada, longe ele estava.
Talvez em alguma encruzilhada
conjurando coisas que ignoramos.
Senti sua presença mais intensa e o corredor se iluminou
Eu me aqueci e vi você nos rostos de outros que passavam encolhidos.
Vi então a sombra inteira, em pé, mãos nos bolsos da jaqueta preta.
Vi seu cabelo desalinhado, cheiro de banho recém tomado,
Ouvi o som de sua voz chiante dizendo meu nome,
sorrindo para mim como se dissesse “Acorda!”
E eu acordei dessa alucinação compensatória
do vazio de sua ausência.
Depois pensei “é isso que o amor é”.