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Se não chover nem ventar

Se não chover nem ventar,
se a lua e o sol forem limpos
e houver festa pelo mar,
- ir-te-ei visitar.


Se o chão se cobrir de flor,
e o endereço estiver claro,
e o mundo livre de dor,
- ir-te-ei ver, amor.


Se o tempo não tiver fim,
se a terra e o céu se encontrarem
à porta do teu jardim
- espera por mim.


Cantarei minha canção
com violas de eternamente
que são de alma e em alma estão.
- De outro modo, não.

Cecília Meireles
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Nossas asas no anis

Hoje é o dia mais triste de nossa história.

Quem não se comove com a maior de todas as tragédias brasileiras e não fez todo o possível para evitá-la não tem coração. Tudo isso para aumentar: o lucro de empresas farmacêuticas e a propina para este desgoverno. São todos assassinos, são monstros.

Talvez vocês consigam transformar sua dor, seu luto, nosso abismo em algo: em desabafo, em gritos, em palavras. Dizer o indizível, olhar de frente nossa miséria, a miséria humana, dói, dói muito, mas não dizer e não olhar dói muito mais.

Quantos versos conseguimos escrever com as letras da palavra “assassinos”?

Si
Só sai,
insana sina 
o asno insano assa as asas sãs
assina só os nossos ossos ansiosos, sósias

Os sóis não são só isso?

No sono, nos sinos, nos sinais, a sós nossa sina
no sono, o siso sana nossos anos insossos!
Nos sinos, os Sis, os Sóis
os Sons são asas
Os sinais?
Nos oásis, saias são nossas asas no anis.





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Faz da tua casa uma festa!

Cora Coralina

Faz da tua casa uma festa! 
Ouve música, canta, dança...
Faz da tua casa um templo!
Reza, ora, medita, pede, agradece...
Faz da tua casa uma escola!
Lê, escreve, desenha, pinta, estuda, aprende, ensina...
Faz da tua casa uma loja!
Limpa, arruma, organiza, decora, muda de lugar, separa para doar...
Faz da tua casa um restaurante!
Cozinha, prova, cria, cultiva, planta...
Enfim...
Faz da tua casa
Um local criativo de amor.


Foto por fauxels em Pexels.com
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Embriague-se

Charles Baudelaire

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: É hora de embriagar-se!

Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso. Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

27. vinho