Silvio Rodrigues
Hoje eu me proponho fundar um partido de sonhos,
oficinas onde consertar asas de beija-flores
Admitem-se loucos, enfermos, gordos sem amor,
tolhidos, anões, vampiros e dias sem sol.
Hoje eu vou patrocinar a candura desenganada,
essa massa crítica de Deus que não é pós e nem moderna.
Admite-se proscritos, raivosos, povos sem lar,
desaparecidos devedores do banco mundial.
Por uma rua
descascada
por uma mão
bem apertada.
Hoje eu vou fazer uma assembléia de flores murchas,
de restos de festa infantil, de pinhatas usadas,
de almas penadas -do reino do natural-
que otorgam licença à qualquer artefato de amar.
Pelo levante,
pelo poente,
pelo desejo,
pela semente.
por tanta noite,
pelo sol diário,
em companhia
e em solitário.
Asa de beija-flor,
leve e pura.
Asa de beija-flor
para a cura.