Não fui eu quem inventou essas dicas, foi o grande escritor e dramaturgo russo Anton Tchékhov! O professor italiano Piero Brunello, estudioso do grande contista, compilou 99 dicas de escrita, tiradas de cartas de Tchékhov a escritores contemporâneos seus – pelo visto, muita gente pedia conselhos ao grande mestre!
Elas estão no livro Sem trama e sem final – 99 conselhos de escrita, que é um pouco difícil de encontrar nas livrarias. Mas eu selecionei as dicas que achei mais bacanas para passar pra você. Leia, compartilhe e dê a sua opinião!
DICA 1: CHORAR SEM QUE O LEITOR PERCEBA
Conselho extraído de carta a Lídia Avílova
“Sim, escrevi-lhe certa vez que se deve ficar indiferente ao escrever contos que despertam compaixão. E você não me entendeu. Pode-se jurar ou gemer em cima de um conto, pode-se sofrer junto com as próprias personagens, mas creio eu, deve-se fazer isso de um jeito que o leitor não perceba. Quanto maior a objetividade, mais forte será a impressão. É isso o que estava querendo dizer”.
Ao meu ver, esse é um conselho PRECIOSO! É muito comum escritores, principalmente aqueles que estão começando, incorrerem no erro de querer emocionar o leitor a qualquer custo. Dessa forma, muitas vezes acabam criando um texto artificial, meloso, e frequentemente piegas e clichê. Muito cuidado com isso!
Quando Tchékhov diz que “deve-se fazer isso de um jeito que o leitor não perceba”, ele está, portanto, dizendo que, quando lê um texto, o leitor não pode achar que o escritor está forçando a barra. O drama das personagens deve surgir de forma natural, deve ser mostrado – através de imagens, ações, diálogos etc – e não explicado.
Veja este brilhante microconto de Hemingway:
Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.
Não é lindo e de arrancar lágrimas!!? Apenas seis palavras e podemos imaginar toda uma história! E Hemingway não precisou ficar falando da infância, da morte, ou de como é duro e devastador quanto essas coisas se tocam. Apenas evocou uma imagem, convidando o leitor a preencher, com sua inteligência e sensibilidade, o sentido do texto.
Eis um texto literário potente: aquele em que o leitor também é convidado a criar, junto com o autor.
DICA 2: ATRIBUTOS E ADVÉRBIOS
Conselho extraído de carta a Maksim Górki
“Outro conselho: ao fazer a revisão, corte, onde possível, os atributos dos substantivos e dos verbos. Você coloca tantos atributos que fica difícil a atenção do leitor não se perder, e ele se cansa. É compreensível quando escrevo: “o homem sentou-se na grama”; é compreensível por ser claro e não reter a atenção. Ao contrário, é pouco inteligível e pesado para o cérebro, se escrevo: “um homem alto, de peito cavado, porte discreto e barbicha ruiva sentou-se na grama verde, já pisoteada pelos transeuntes; sentou-se sem fazer ruído, olhando tímida e temerosamente à sua volta”. Isso demora a entrar no cérebro, e a literatura deve entrar imediatamente, num átimo”.
Aqui, o mestre é claro. É evidente que isto não é uma regra absoluta, e que um bom texto literário pode conter – até em abundância –atributos e advérbios; entretanto, eles só devem estar ali se realmente agregam sentido à narrativa como um todo, se, por algum motivo, dizem, melhor que qualquer outra coisa, algo a respeito das personagens ou da trama. Nada de usar adjetivos e advérbios só porque “é bonito” ou porque preguiçosamente só encontrou essa forma de dizer o que precisa ser dito.
DICA 3: DETALHES
Conselho extraído de carta a Eliena Chavrova
“Se quer os defeitos, então permita-me apontar-lhe um, que você repete em todos os seus contos: no primeiro plano do quadro há detalhes em excesso. Você é uma pessoa observadora, tem pena de separar-se desses detalhes, fazer o quê? Eles precisam ser sacrificados em prol do todo. Assim o exigem as condições físicas: deve-se escrever, tendo em mente que os detalhes, ainda que muito interessantes, cansam a atenção.”
Novamente, isto não é uma regra absoluta! Mas se Tchékhov, no final do século XIX, já advertia os escritores de que detalhes e descrições em excesso podiam cansar e dispersar o leitor, imagine hoje, quando lidamos com atenções extremamente dispersas e divididas entre milhares e os mais diversos estímulos! Você precisa capturar o leitor, prender sua atenção, para que ele não feche o livro e vá assistir ao último seriado do Netflix. 😉
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Fonte: Superdicas para escrever um texto literário arrebatador! – Parte 1