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É impressionante como algumas pessoas (pouco preparadas do ponto de vista crítico-literário) não entendem o propósito do texto ficcional, poético ou narrativo, e fazem comentários totalmente incabíveis sobre certos textos. Eis o que acontece com Noite na Taverna , de Álvares de Azevedo, objeto de análise por alguns que se dizem críticos ou estudiosos de literatura. Claro, não citarei nomes, pois respeito a ética.
É evidente que o cenário, as falas, personagens e temas que figuram nessa novela, composta de 7 histórias contadas por amigos reunidos para se divertirem. revelam situações próprias do imaginário típico do Romantismo. Por isso, já estão, de saída, atendendo a um contexto (melhor seria dizer, atmosfera) filtrado pela subjetividade lírica desse momento: relações amorosas, fantasias, desvios sexuais, sentimentalismo ligado à necrofilia, terror, morbidez etc – esses elementos se inserem na vertente gótica da estética romântica.
Porém, sabemos que é preciso certo distanciamento quando pretendemos ler critica ou analiticamente um texto literário. Ou seja, diante de contos pertencentes a esse gênero narrativo, em que horror, perversão e crueldade imperam, não é possível considerá-los indigestos, impróprios à leitura, ou pior ainda, tomá-los como produção menor ou sem qualidade em relação a outras do Autor. Nada disso faz sentido quando sabemos, apoiados por críticos e teóricos ( Roland Barthes, Jacques Derrida, Umberto Eco, Paul de Man, Octavio Paz e tantos outros), que se trata, afinal, de uma ficção, isto é, uma linguagem que simula representar o real, mas cria estratégias próprias para (des)figurá-lo. Para isso, utilizam recursos criativos na montagem do discurso, como, exagero, caricatura, metaforização, paródia, sátira, carnavalização, ironia e outros mais, a fim de chamar atenção do leitor não apenas ou diretamente para os assuntos horripilantes, mas, principalmente, para os meios com que eles passam a fazer sentido e se justificam. O que lemos, afinal, não é exatamente o real, mas outro universo: o da própria linguagem, com autonomia para (re)criá-lo de modo peculiar, singular.
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